25 abril 2024

A HISTÓRIA DA GRÂNDOLA

 A HISTÓRIA DA GRÂNDOLA




José Afonso é convidado para actuar na Sociedade Musical Fraternidade Operária de Grândola, no domingo 17 de Maio de 1964, a quando dos festejos do 52º Aniversário.




Como podemos ver no cartaz promocional aparece o Zeca acompanhado de Rui Pato e o Carlos Paredes com o Júlio Abreu. Este último era o nome de um ciclista que por engano da gráfica foi lá colocado já que o mágico da guitarra de fado foi acompanhado à viola pelo Fernando Alvim, e Rui Pato não veio porque não foi convidado, pois a direcção ao convidar o Zeca partiu do pressuposto que ele vinha com Rui Pato.




Mas o espectáculo correu de tal maneira que tocou fundo no Zeca ao ponto quatro dias depois ou seja no dia 21 de Maio de 1964, a Sociedade Musical Fraternidade Operária de Grândola recebe uma carta do Zeca com um poema intitulado “Grândola Vila Morena” dedicado à sociedade, que é lido no espectáculo de estreia do grupo de teatro realizado no dia 31 de Maio.


Grândola Vila Morena

Terra da fraternidade

O povo é quem mais ordena

Dentro de ti ó cidade


Em cada esquina um amigo

Em cada rosto igualdade

Grândola Vila Morena

Terra da fraternidade


Capital da cortesia

Não se teme de oferecer

Quem for a Grândola um dia

Muita cá-de trazer




De 11 de outubro a 4 de novembro de 1971, em Herouville (França), José Afonso grava com José Mário Branco, Francisco Fanhais e Mário Correia (Bóris), o disco “Cantigas de Maio”, do qual faz parte “Grândola, Vila Morena” (como podem ver com novos versos).


Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade!
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena!


Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade!
Terra da fraternidade

Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena!

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade!
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade!





A 10 de maio de 1972 José Afonso actua na Faculdade de Ciências Económicas em Santiago de Compostela, na Galiza, onde terá apresentado pela primeira vez ao vivo “Grândola, Vila Morena.






No dia 29 de março de 1974, "Grândola, Vila Morena" foi cantada no encerramento do primeiro Encontro da Canção Portuguesa, no Coliseu de Lisboa. A censura tinha proibido outros temas de José Afonso, como “Menina dos olhos tristes” ou “A morte saiu à rua”, mas "Grândola" escapou ao lápis azul.





No dia 25 de Abril de 1974 pela meia noite e vinte, a “Grândola, Vila Morena” foi tocada no programa “Limite” transmitido pela Rádio Renascença. Era a senha para o arranque definitivo das operações do MFA.




A canção cedo se tornou num verdadeiro Hino da Revolução, e sempre que Abril faz anos, é cantada com emoção por todos aqueles que trazem Abril, a voar dentro do peito. 

 

Fernando Oliveira – Furriel de Junho

01 abril 2024

CERIMÓNIA DE DESPEDIDA

 

CERIMÓNIA DE DESPEDIDA

DO BATALHÃO 6521/72

DE PENAFIEL




Quem andou na tropa nos anos em que se desenrolou a Guerra Colonial, um dos quartéis que todos tentavam evitar lá cair, era precisamente o de Penafiel, pois todos sabíamos que era meio caminho andado para adquirir um passaporte para a guerra, tal foram o número de companhias que daqui partiram.

Daqui saíam muitas companhias para o teatro de guerra, para qualquer uma das províncias ultramarina africanas, Angola, Moçambique e Guiné.

 



No dia 27 de Junho de 1961, parte de Penafiel o primeiro contingente de tropas para a Guerra Colonial, com destino a Angola. Eram duas Batarias de Artilharia, a 145 e a 146, comandadas respectivamente pelos capitães Esteves Virtuoso e Rolando de Carvalho Tomás Ferreira. Neste ano a guerra apenas se estendia em Angola, e Salazar do Terreiro do Paço em Lisboa, aos microfones da Emissora Nacional, proclamava a célebre frase:”Rapidamente para Angola e em força.”




Os penafidelenses foram-se habituando a ver a partida de soldados para a guerra que era sempre um dia triste e desolador para a cidade, mas sabiam festejar com alegria o regresso dos mesmos.

Com o decorrer dos anos, o pior cenário de guerra passou a ser na Guiné. Lembro-me que quando embarquei no avião da Força Aérea rumo a Luanda, depois dos choros, beijos e abraços da despedida e da tristeza que invadiu os semblantes de todos nós, a dada altura o comandante informa que estávamos a sobrevoar a Guiné. O silêncio foi interrompido com um grito: Acelere! Acelere! E uma risada geral, foi o bastante para aliviar aquele ambiente pesado que mais parecia um velório dentro da aeronave.




No dia 21 de Setembro de 1972, Penafiel assistiu a mais uma despedida de tropas para o Ultramar, cerimónia sempre tocante e expressiva vivida por todos nós.




Ás 10 horas, foi celebrada a missa campal concelebrada pelo Reverendos Capelão da Companhia 6521, Padre Luciano Augusto Rodrigues e pelos padres irmãos Cunha, em gozo de férias em Penafiel.




Assistiram os srs. Manuel Alves Moreira, Presidente da Câmara Municipal de Penafiel. Dr. Aurélio Tavares, Presidente da A.N.P., Coronel Cipriano Fontes, antigo Comandante do RAL 5, Tenente Veiga Ferraz, Comandante de Secção da G.N.R., Dr. Francisco Brandão, médico da unidade, representante da Liga dos Combatentes, senhoras do Movimento Nacional Feminino, comandante do R.A.L. 5, Tenente-Coronel Bacelar, e familiares dos soldados.


O Padre Luciano Rodrigues, ao evangelho, proferiu uma interessante como patriótica homilia pedindo as graças de Deus e a intercessão de Maria para que esta expedição fosse coroada dos melhores êxitos.




No final da missa e logo após a comunhão dada à maioria dos soldados, foram benzidos os guiões do Batalhão.

No gabinete do comandante do R.A.L. 5 e na presença do Coronel Novais e Silva, representando o General comandante da Região, foram promovidos, ao posto imediato, vários oficiais da Companhia 6521.

Após este cerimónia foi prestada continência ao Comandante da Região no Largo do Conde de Torres Novas onde estavam concentradas as companhias.

Após esta cerimónia o Comandante do RAL 5, Tenente- Coronel Bacelar, fez uma exortação aos militares, com palavras prenhes de amor e patriótico significado terminando por lhes desejar uma missão fácil e um regresso feliz.




O Comandante do Batalhão expedicionário,Tenente-coronel Luís Filipe de Albuquerque Campos Ferreira, agradeceu as palavras do Comandante do R.A.L. 5, e logo de seguida o as forças em parada desfilaram, pelas avenidas Egas Moniz, Sacadura Cabral e Praça Municipal, precedidas pela Banda do R.I. 6 e Fanfarra do R.A.L. 5. A cidade engalanou com colchas as varandas durante o desfile, em significativa homenagem aos corajosos militares.




O Batalhão de Artilharia 6521/72, penúltimo a sair do RAL5, para a Guerra Colonial, partiu de Penafiel no dia 22 de Setembro de 1972 para a Guiné, onde ficou sediado no Pelundo, enquanto o último Batalhão 6520 fez este ano 50 anos que partiu de Penafiel a 29 de Março de 1974, um mês antes do 25 de Abril.

 


Fotos de Pelundo - Guiné


Resolvi fazer esta humilde homenagem ao BART 6521/72 que faz este ano no dia 27 de Agosto de 2024, cinquenta anos que regressou da Guiné.




Não foram recebidos com pompa e circunstância como era costume dos penafidelenses nestes casos, isto porque o país andava entretido a cantar “Uma gaivota voava voava, quando for grande não vou combater”, e até aos dias de hoje os antigos combatentes continuam a serem ignorados e por vezes até mal vistos por todos aqueles que depois de Novembro se sentaram nas cadeiras do poder.


Enquanto isto mandam milhões para uma guerra, segundo eles porque o povo de outro país está a combater por nós, para nossa segurança.


Mal vai um país que entrega a sua defesa a outros povos, e que ignora e despreza os seus antigos combatentes.


Quando isto der para o torto, não contém comigo para o que quer que seja, porque não confio na rectaguarda, e para ser enganado, já bastou uma vez.


Fernando Oliveira – Furriel de Junho


01 março 2024

O HINO QUE NINGUÉM CANTA E POUCOS O SABEM

 O HINO QUE NINGUÉM CANTA

E POUCOS O SABEM




O Futebol Clube de Penafiel, fundado em 1951, como todos os clubes, também tem o seu hino, escrito pelo Sr. Afonso Costa de Sousa, que chegou a ser massagista e cobrador do clube.

 


Acontece que ninguém lhe colou uma música capaz de entusiasmar os apoiantes do clube a entoá-lo a pleno pulmões nas bancadas do Estádio 25 de Abril.




Aqui fica a letra do hino que ninguém canta, e poucos o sabem

Hino do Futebol Clube de Penafiel


Suas cores preto e vermelho

Em sua beleza espelha

a nossa grande afeição

Que brota do coração


Na águia de distintivo

Mostra seu valor altivo

Como símbolo de bairrista

Da nossa fé clubista


É sempre com lutas leais

Que contra os nossos rivais

Enquanto o jogo durar

Nós os vamos derrotar


Pois nos levando à vitória

Fica na nossa história

Para toda a gente ver

Só a morte nos vai vencer


Refrão:

Com a força dos pulmões

Cantamos sempre canções

P'ra nos levar à vitória

E assim fica gravado

O seu brilhante passado

Nos anais da sua história.

 

 

Mas em contra partida, em 1990, José João, grava em cassete o Hino a Penafiel, com letra do Professor Albano Morais e cantado em estilo de marcha. Este pelo menos é mais trauteado cá no burgo, talvez porque foi vestido com música, embora tivesse sido feita quando o clube militava na 1.ª Divisão Nacional de futebol, cada vez é mais difícil o F. C. de Penafiel ser grande entre os maiores, como reza o refrão.





Hino a Penafiel


Desperta o sol na cidade

Quatro aviou e glória

Passa alegre a mocidade

Mais um jogo, uma vitória

Ao vento bem desfraldada

Preta e rubra tremular

A bandeira empunhada

É Penafiel a liderar


Penafiel, naif alegre e linda

Penafiel, brilhem sempre as tuas cores

Voltarás na vontade que não finda

Penafiel, a seres grande entre os maiores


Penafiel, naif alegre e linda

Penafiel, brilhem sempre as tuas cores

Voltarás na vontade que não finda

Penafiel, a seres grande entre os maiores


Bate em nosso coração

O desejo altaneiro

De tu seres o campeão

De vires a ser o primeiro

Com brio, amor e com garra

Teremos de novo tesouro

De ver o nome e a vitória

Escrito com letras de ouro


Penafiel naif alegre e linda

Penafiel brilhem sempre as tuas cores

Voltarás na vontade que não finda

Penafiel, a grande entre os maiores


Penafiel, naif alegre e linda

Penafiel, brilhem sempre as tuas cores

Voltarás na vontade que não finda

Penafiel, a ser grande entre os maiores


Nasce em nós uma esperança

Toda orgulho e amor

De quando a vitória se alcança

Com saber e pundonor

P'ra vencer os dentes serram

No desejo mais profundo

Se assim honrares a terra

Que é a mais linda do mundo


Penafiel, naif alegre e linda

Penafiel, brilhem sempre as tuas cores

Voltarás na vontade que não finda

Penafiel, a seres grande entre os maiores


Penafiel, naif alegre e linda

Penafiel, brilhem sempre as tuas cores

Voltarás na vontade que não finda

Penafiel, a seres grande entre os maiores

 

 

E pronto, toca a trautear, juntando a sua voz à do amigo José João, em estilo caraoque.

 

https://www.youtube.com/watch?v=d05lJU73UQw

 

Fernando Oliveira – Furriel de Junho

01 fevereiro 2024

HABILIDADES E HABILIDOSOS

 

HABILIDADES E HABILIDOSOS

 



No antigamente volta e meia apareciam na urbe, pessoas a exibirem as suas habilidades, para ganharem através disso, o pão nosso de cada dia.




Esta arte de ganhar a vida, já vem de muito longe, estou-me a lembrar da escalada da igreja das Freiras em 1927, pela acrobata portuguesa que embora trajada de homem, dava pelo nome de Lita, perante numerosa assistência.




Nos anos 60 do século passado montado no seu monociclo de grande altura, seguido de perto por muitos miúdos, lá percorreu a cidade o homem trajando de cozinheiro fazendo reclame à Nestlé, enquanto o seu ajudante que se deslocava a pé, apregoava os caldos Maggi da mesma empresa.




Os equilibristas também faziam parte com a sua agilidade e destreza equilibrando na testa o alguidar, ou com a boca uns poucos de copos e outros objectos, assim como apareceram mais tarde os irmãos Avelinos que no Largo Conde de Torres Novas, com uma vara nas mãos deslizavam sobre o arame.




Isto para além do teatro de rua que alegrava a miudagem com a barraca dos Robertos.




Num S. Martinho apareceu numa daquelas barracas com espelhos que nos fazem barrigudos, elegantes, altos e baixos, só que naquele ano a atração era Gabriel Estêvão Monjane, também conhecido por Gigante de Manjacaze e considerado o homem mais alto do mundo, proveniente de Gaza (não da Palestina), mas sim da província ultramarina de Moçambique (hoje país independente) para exibir as suas caraterísticas físicas, vindo a contracenar com o penafidelense Jacinto, o homem mais pequeno do mundo. Gabriel era exibido pelo País como coisa rara e insólita, tendo viajado por todo o mundo. Na foto vemos com ele um anão e o nosso Jacinto.




Também era muito comum, nas feiras anuais, aparecerem em qualquer esquina, um ceguinho agarrado ao seu acordeão tocando uma peça musical por vezes cantarolada, enquanto a sua parceira ou filha faziam o peditório entre a assistência ou quem passava na rua, vendendo ao mesmo tempo, folhas com as letras das canções da moda, para as pessoas levarem para casa para as trautearem.




E para a música ser completa, só faltava mesmo o homem dos sete instrumentos (Elias Rodrigues), com o seu chapéu de palha alusivo à sua ilha da Madeira. Com as mãos, os pés e a boca lá ia tocando peças musicais, umas atrás das outras, pois sozinho fazia a festa.




Agora em pleno século XXI, embora esta praga já venha do último terço do século passado, entram em cena os habilidosos. Estes não fazem nenhuma habilidade, apenas exibem o cartão da tribo.




Através desse compadrio, lá vão arranjando tachos por tudo quanto é lado, por vezes sem o mínimo de competência para o exercer, chegando ao ponto de a Bandeira Nacional, já ter sido içada de pernas para o ar. 

 


Esta gente vai andar em acção neste mês de Fevereiro, prometendo bacalhau a pataco, e tudo e mais alguma coisa a todos, ficando por magia todos bem na vida.


Uns prometem Portugal Inteiro, quando o país foi vendido ao retalho e a preço de saldos, estando já apalavrada a TAP para ir voar para outras mãos e pelo que consta, a Efacec seguirá a mesma rota.


Outros apregoam que vai surgir um novo detergente muito mais poderoso do que o “OMO lava mais branco”, comprometendo-se a Limpar Portugal de lés a lés, jurando a pés juntos, que Chega uma simples gota para tal acontecer.


O avançado Montenegrino, reforço de inverno da equipa tri-color, que vai fazer parte do novo trio atacante, para além de ser bom executante de cabeça, embora marcando muitos golos em fora de jogo, o seu forte mesmo é a finta ao fisco.


Outros querem resolver o problema da habitação, que se tornou um bico de obra, e como tal não está fácil de resolver, pois pelos vistos são precisos muitos mais blocos, cada vez mais difícil de os arranjar, mas esta gente tem fibra e diz com toda a confiança do mundo: “Não Desistimos”.


E os animais que querem PAN em todas as gamelas, tanto na Madeira como no resto do país. Para isso estão dispostos a piscar o olho à esquerda e à direita, consoante nos dê mais jeito na altura.


Apareceu uma febre liberal para privatizar tudo e mais alguma coisa, desde o SNS, a educação, e por sua iniciativa até a TAP já tinha desaparecido. Não gostam de Abril, mas adoram Novembro, quando os militares regressaram aos quartéis e os partidos tomaram o poder.


Anda por aí Livre em rodopio constante, dando voltas e mais voltas mais parecendo os anéis de Saturno só que desta vez à volta do poder, como se de um satélite se tratasse.


Os vermelhos continuam firmes na sua trincheira, fazendo fogo cruzado, e são os únicos que ainda não foram ao beija-mão a Kiev, por isso segundo as sondagens (que valem o que valem, ou seja zero), vão levar tau-tau nas próximas eleições.




Mas se pensam que esta gente se não entende, enganem-se. Vejam só este exemplo antes do fecho na Assembleia da República, em Janeiro de 2024, enquanto o povo anda a esticar os seus euros para chegarem até ao final do mês, eles (os partidos), tratam da sua vidinha.


Assim, os deputados aprovaram um alargamento das suas ajudas de custo na última sessão antes da dissolução da Assembleia da República. Estas ajudas entram em vigor em 2025, mas tem retroativos até Agosto de 2023. Vamos lá saber quem apresentou tal proposta aceite por unanimidade. A proposta foi assinada por Pedro Delgado Alves (PS), Hugo Carneiro (PSD), Bruno Nunes (Chega), Patrícia Gilvaz (IL), Alma Rivera (PCP), Pedro Filipe Soares (BE), Rui Tavares (Livre) e Inês Sousa Real (PAN).


E com tanta promessa que vai sair da boca destes partidos e mais alguns que por aí andam, e porque o vírus da mentira, vai andar à solta... Vacinem-se!

 




Caso contrário, caminhamos todos para o poço da morte.


Fernando Oliveira – Furriel de Junho

01 janeiro 2024

ESCOLA PREPARATÓRIA PAIO RAMIRES

ESCOLA PREPARATÓRIA

PAIO RAMIRES


Prédio onde funcionou a Escola Paio Ramires

Através do Decreto-Lei n.º 48 541, de 23 de Agosto de 1968, no tocante à criação de escolas preparatórias do ensino secundário.


Na escolha dos patronos das escolas tiveram-se em consideração em princípio, as sugestões feitas pelas autoridades locais, que se consultaram para o efeito.


Quando os penafidelenses esperavam pelo nome de Egas Moniz, eis que no Diário do Governo de 9 de Setembro de 1968, vem atribuído o nome de Paio Ramires.


Quem era Paio Ramires?


Paio Ramires foi um Rico-homem e cavaleiro medieval português.

 

Foi Mestre do Templo e cavaleiro nobre do Condado Portucalense, deu apoio a D. Afonso Henriques na rebelião deste contra a  sua mãe, D. Teresa, Infanta de Leão, em 1128. Recebeu deste rei em 1132 o Couto de Cambeses, actual freguesia de Cambeses em Barcelos. Como vemos Paio Ramires nada tem a ver com Penafiel, só se compreendendo tal nome atribuído por um erro de geografia, para os lados do Ministério da Educação, instalado na capital.

 




Como estávamos num tempo em que não era permitidos a mistura de sexos nas salas de aula, a Escola Paio Ramires funcionava em dois edifícios distintos. A dos rapazes na Av. Sacadura Cabral, no 1.º andar do antigo edifício do Hotel Avenida, tendo no seu rés-do-chão o Banco Nacional Ultramarino e a Sapataria Manuel do Carmo, enquanto a das meninas situava-se na Rua do Paço, mesmo em frente da Livraria Reis.


Escola Paio Ramires  na Rua do Paço

O seu director era o Padre Arnaldo Teixeira, e a desobriga Pascal destes alunos se realizava na Igreja Matriz de Penafiel.




Com o fim do 1.º Ciclo Liceal e do Ciclo Preparatório do Ensino Técnico, para os substituir, foi criada já na cidade de Penafiel a Escola Preparatória de Paio Ramires.




Neste seu primeiro ano lectivo de 1968 - 69 englobou já 154 alunos, o que representa número magnífico para começar.


Findo estes dois anos lectivos com aproveitamento, os alunos podiam escolher entre o ensino técnico ou liceal.




No ano do bicentenário da cidade de Penafiel 1970, no Dia de Portugal, 10 de Junho, neste ano também chamado de Dia da Juventude Académica, que começou com uma missa na Igreja Matriz de Penafiel. 

No final da mesma, alunos da Mocidade Portuguesa desfilaram até ao Monumento dos Mortos da Grande Guerra situado na Praça Municipal. Ali já os esperavam o senhor Presidente da Câmara, Dr. Manuel Alves Moreira, Vice-reitor do Liceu, Director da Escola Industrial, Professores e alunos.



O Padre Arnaldo Leite Teixeira, director da Escola Preparatória Paio Ramires, fez uma vibrante alocução incentivando os jovens ao exemplo que nos foi dado por todos quantos em defesa da Pátria tombaram mas que vivem perenemente na nossa memória. 

No final foi descerrada uma placa alusiva na base do monumento.

 


Apesar de curta duração da Escola Preparatória Paio Ramires (10 anos),  tenho a certeza que este texto vai avivar memórias a todos e a todas que por lá passaram.

Quatro anos depois do Golpe Militar do 25 de Abril de 1974, através do Decreto-lei 80/78, promulgado em 14 de Abril de 1978, foi extinguida a Escola Industrial e Comercial de Penafiel, juntamente com o Liceu Nacional de Penafiel e a Escola Preparatória Paio Ramires, para dar origem à Escola Secundária de Penafiel.

Hoje o ensino não sei se está melhor ou pior do que antigamente, mas uma coisa eu sei, está diferente, com os professores na rua a exigirem mais RESPEIT€.

 

Fernando Oliveira - Furriel de Junho


01 dezembro 2023

COISAS DO NATAL

OU TALVEZ NÃO




Como estamos em Dezembro lembrei-me de trazer ao meu blogue “Penafiel Terra Nossa, coisas mais ou menos ligadas ao Natal ou talvez não, do século passado.

Vou começar por falar de uma espécie de peditório que aparecia na cidade de Penafiel nos anos 50 para auxiliar os mais pobres.


O Farrapeiro





Mais ou menos a meio do mês de Dezembro, as Conferência Vicentina desta cidade de Penafiel, em colaboração com a Comissão Municipal de Assistência promoviam o cortejo do Farrapeiro de S. Vicente de Paulo.


No ano de 1954, esse cortejo teve lugar no dia 17 de Dezembro. Pelas nove horas e meia, apareceu no alto da cidade uma furgoneta com instalação sonora montada pela firma Electo Bazar Penafidelense de Fernando Baptista, logo seguido de uma camioneta cedida pela firma Albano & Miguel rodeada de vicentinos com suas braçadeiras. Quero deixar aqui bem claro que tanto a instalação sonora como a camioneta eram cedidas gratuitamente.


E lá percorriam as ruas da cidade na recolha de bens e donativos para distribuírem pelos mais desfavorecidos.


O Presépio




O que dantes era feito pelo meu Pai-Natal, hoje cabe-me a mim ir buscar a caixa de papelão com as figuras de barro para colocar no presépio. Para além da Sagrada Família, lá estão os músicos, as casinhas, os três Reis Magos, o anjo. o pastor com as suas ovelhas, o moinho, etc.


Nesse tempo. a Igreja da Misericórdia era a que tinha o melhor presépio.


Padre Augusto Cardoso de Barros "O Sr. Reitor"


Na missa das onze rezada pelo Sr. Reitor sempre repleta de crentes, que no final iam beijar o Menino Jesus que o padre Augusto Cardoso de Barros segurava nas mãos e o ia dando a beijar a todos.

Enquanto isso, o grupo coral ia entoando:


Vinde, vinde já ó almas

adorar o Deus Menino

Despido de amor profano

E cheio de amor divino.


Vinde, vereis na lapinha

Sobre palhas encostado

Aquele Deus nas alturas

Por nosso amor humanado.


Vinde já, vinde com pressa

Há lapinha de Belém

P’ra ver como Deus Menino

Nasceu para nosso bem.


Oh! Quem se não admira

De ver tão grande humildade

Vir unir-se ao nosso barro

A Divina majestade.


Lançai-me meu Deus Menino

A vossa bênção sagrada

E peço-vos que a minh’alma

Seja só vossa morada.


Entre cada quadra entoávamos o refrão:


Corramos depressa

Nós míseros mortais

Cantar ao Menino

Bendito sejais.




O Bolo-Rei




Este bolo tão típico do Natal, que naquele tempo apenas aparecia nesta quadra, hoje em qualquer confeitaria ou padaria o fabrica durante todo o ano, talvez para fazer jus aos versos de Ary dos Santos que dizem que:

Natal é em Dezembro

mas em Maio pode ser

Natal é em Setembro

é quando um homem quiser


Por isso foi um bolo que deixou de ter aquele encanto natalício. Nos longínquos anos 50 ninguém concebia tal iguaria na cidade de Penafiel, e apenas duas marcas de bolo-rei se podiam adquirir na urbe. Uma era o Bolo-Rei da confeitaria Costa Moreira, vindo do Porto e era vendido na mercearia Pedro e o outro vindo de Valongo da casa Paupério que se comercializava no Café Capri.


Este bolo continha no seu interior um brinde que a quem saísse a fatia com o mesmo ficava contente e uma fava que a quem tivesse o azar de a ter, era penalizado com o pagamento do próximo Bolo-Rei, que neste caso seria para a passagem do ano.


Só por curiosidade, a quando da implantação da República, a Paupério baptizou por alguns anos o Bolo-Rei de Bolo Presidente, com medo que os republicanos não gostassem do nome do produto e não o comprassem.




Talvez muitos penafidelenses não saibam que em 1933, na Av. Sacadura Cabral existia a Padaria Lino que fabricava todas as qualidades de pão, bolachas, biscoitos, tostas e sêmea, sendo seu proprietário Lino de Sousa Paupério, que encerra as suas portas em 1934 e ruma até Valongo (onde hoje o seu nome faz parte da toponímia), para se juntar ao projecto familiar Paupério.


Devido à sua simpatia, honestidade, qualidades de carácter e coração, granjeou um leque de amigos penafidelenses, que resolveram-no presentear com um jantar de despedida no sábado, 28 de Julho de 1934, na Pensão Morais.


Iniciou os brindes o sr. José Ferreira Viana Júnior, seguindo-se-lhe o sr. Belmiro Nogueira Xavier, Rodrigo Veiga, Carlos Alves, Domingos Vilela, Albano Borges, Gaspar Moreira Dias e Alves Monteiro. Por fim em nome da Comissão organizadora desta festa que era constituída pelos srs. Armando Barbosa, Serafim Machado e Miguel Campos que falou em nome da organização deste jantar, pondo em destaque as qualidades do homenageado, esposa e filhos, agradecendo a comparência de todos os presentes (cerca de 60 pessoas). Por último, profundamente comovido agradeceu Lino Paupério, que a todos envolveu em um grande abraço de despedida.


Adeus até ao meu regresso




Nos anos 60, com o começo da Guerra Colonial, em que quase todas as famílias portuguesas tiveram filhos a combater em África. A RTP, única emissora de televisão existente em Portugal, enviava os seus reportares para Angola, Moçambique e Guiné, registando no final de cada ano as Mensagens de Natal dos militares portugueses para os seus familiares e amigos, expressando os emocionados desejos de um Feliz Natal e um Bom Ano Novo.


Assim as famílias dos combatentes na metrópole coladas â televisão (coisa que ainda não existia nas Províncias Ultramarinas), esperavam ansiosamente que aparecesse alguém conhecido ou o próprio familiar no pequeno ecrã.


Estas mensagens terminavam com a célebre frase: “Adeus até ao meu regresso” desejo esse por vezes incumprido dum regresso à Metrópole vivo e salvo.


Foram tempos de guerra que felizmente já terminaram e não deixam saudades a ninguém.


Depois destas lembranças natalícias do século passado, não podia terminar este meu texto, sem desejar a todos quantos por aqui passam...




Fernando Oliveira – Furriel de Junho